quarta-feira, 15 de junho de 2011

CRÍTICA: ‘Mad men’ e a melancolia

Há inúmeras séries que fazem rir e praticamente todas buscam surpreender com ganchos incríveis. O grande susto em “Mad men” é que — além de não servir para quem quer chorar — ali não há nada disso. Como se não bastasse, jamais se ouve um personagem dizendo “Eu te amo”. Uma rasteira e tanto no olhar de qualquer espectador treinado.
É que, paralelamente à animação reinante na agência de publicidade Sterling Cooper, “Mad men” se arrasta em outro ritmo. Os roteiros são levados por uma melancolia enorme e bem menos evidente do que o burburinho da Rua Madison. Esta tristeza de fundo é a verdadeira graça do seriado (no ar aqui na HBO). E bota graça nisso. Não foi à toa que, semana passada, a produção levou prêmios pela enésima vez, agora no Montecarlo Television Festival (de melhor série e melhor ator para Jon Hamm).
Um bom exemplo disso é o episódio da segunda temporada “Three sundays”. Ele mostra Don Draper (Jon Hamm) e sua turma num domingo de serão, preparando uma apresentação de urgência para a American Airlines. O clima é de acelerada aflição. Por razões domésticas, que não vêm ao caso aqui, Draper é obrigado a levar a filha, Sally (Kiernan Shipka), com ele para o escritório. A menina de 10 anos zanza pelo ambiente sem que ninguém preste muita atenção a ela. É um retrato de uma época em que as famílias eram mais hierarquizadas e as crianças ainda não tinham se deslocado para o centro das atenções. Sally tenta conversar com os adultos, mas, como estão todos ocupados, acaba sozinha com um copo de uísque ao seu alcance. Ela bebe e apaga num sofá qualquer. Ninguém repara. No fim do expediente, Draper — que é um pai amoroso — a carrega no colo sem notar o copo vazio. Sally estava abandonada, mas a pegada é leve, aparentemente acrítica.
“Mad men” trata de propaganda, mas foge dos idílios, ao contrário da maioria das produções da TV. Sua inteligência está onde há menos ação e os modelos parecem imperfeitos. Tudo isso é tão difícil de notar quanto a bebedeira de Sally.
Kogut

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