Futuro imperfeito

“Desculpe, mas este serviço se encontra em manutenção”. Esta talvez tenha sido a principal frase no feriado de Páscoa de muitos gamers pelo mundo todo. Ao menos dos que, assim como eu, tentaram se conectar na PlayStation Network (a rede online do PS3) nos últimos dois dias. Se você não está muito familiarizado com a rede, aí segue um resumo:

A PSN serve tanto como “ponto de encontro” entre jogadores, fazendo a ponte que liga todas as partidas multiplayer pela rede. Além disso, abriga a loja virtual de jogos, conteúdo extra e outras novidades dos jogos da família PlayStation.

Isso significa que, sem ela, jogadores de PS3 do mundo todo estão há mais de dois dias sem poder jogar online, conversar com seus amigos, comprar itens na loja virtual e, principalmente, acessar boa parte de seus games comprados diretamente na rede, uma vez que muitos títulos dependem da conexão online para funcionar.

A Sony já divulgou em nota extra-oficial que a causa do desligamento repentino da PSN ocorreu por uma invasão externa ainda desconhecida e que estão fazendo o possível para reativarem o sistema. Diagnóstico à parte, eu paro neste feriado para fazer a seguinte reflexão:

Seria a distribuição digital de jogos e o uso da rede online os verdadeiros vilões dos gamers no futuro próximo?

Pare para pensar. Quantos games você já jogou (ou ainda joga) que dependem de suas respectivas produtoras para sobreviver? Não falo apenas de jogos massivos online (os MMOs). Falo de games, como os muitos produzidos pela Electronic Arts, que nos últimos meses tem desligado os servidores de muitas de suas franquias. Jogos como Fight Night Round 3, FIFA 09 e The Lord of The Rings: The Battle for Middle Earth já não funcionam mais em rede.

Ok, quem hoje em dia jogaria FIFA 09 quando já temos a edição 2011 você pode dizer. Mas sim, existem muitos jogadores que mantém suas contas ativas em jogos antigos em prol dos amigos que formou ou até mesmo por afinidade com o game. Imagine, hipoteticamente falando, se a Blizzard desligar seus servidores de World of Warcraft em prol de um novo título? O que seria do seu personagem level 95? Pior, como ficaria a comunicação entre seus amigos da guilda?

Lembro também que não são só os games mais antigos que sofrem com um possível desligamento de seus servidores. Recentemente a Activision cogitou a possibilidade de desligar os servidores de Call of Duty: Black Ops para o PlayStation 3 pelo simples fato da rede trazer uma série de inconsistências e bugs praticamente impossíveis de serem arrumados. Agora, imagine, você compra um game pensando em toda a experiência plena que poderá ter com o mesmo e, de uma hora para outra, parte dessa diversão é simplesmente descartada.

O fato é que a manutenção do servidor online do PS3 me fez ter a certeza de que neste caso também se aplica a frase lendária de nossos avós: “nada é eterno”.

Fico pensando agora que qualquer jogo que traga qualquer recurso extra dependente de um servidor online deve ser colocado como prioridade na lista de games para ser jogado. Lembra da história que eu falei da minha “Aposentadoria Gamer”? Pois é, eu adoraria vislumbrar minha velhice jogando o Mortal Kombat lançado em 2011 com seus 20 personagens exclusivos de download. Mas a certeza é que na minha velhice eu só poderei curtir este game em sua versão pura e crua, digo, como foi lançado em disco originalmente.

Em um jogo de luta e, principalmente se tratando de uma franquia como Mortal Kombat, tenho certeza que na minha velhice terei continuações melhores e mais completas para curtir. Mas, e em um game de FPS, corrida ou simplesmente plataforma? Não poder saborear todos os recursos oferecidos pelo game eternamente é como imaginar que hoje, Super Mario World não tem todas as 96 fases que tinha quando foi lançado porque simplesmente o servidor que mantinha parte destas fases não funciona mais. Entendeu o peso que isso tem? Entendeu o que o futuro dos games lhe reserva?

Posso estar sendo pessimista mas um dia, querendo ou não, toda estrutura da rede online atual da Sony deixará de existir. O mesmo vale para a Xbox Live e os infinitos servidores de MMOs para PC. Assim como ninguém garante que um dia a Valve desista do Steam ou a Apple mude completamente a Apple Store que conhecemos hoje.

É estranho profanar estas frases acima. Me sinto indo completamente contra o sistema. Contra a Matrix. Eu acredito no futuro da computação na nuvem, com todos nossos dados em servidores virtuais. Mas também tenho certeza que ninguém, absolutamente ninguém, me garante que toda minha vida digital será eternizada… o que incluir, infelizmente, jogos eletrônicos.

Aproveitemos enquanto podemos!

Fonte:TT